Encontro TenChi
Caminhos do Despertar
Pernambuco foi palco de encontro entre espiritualidades do Oriente e do Ocidente que, durante um único dia (24 de novembro de 2012) em atividades corporais que visaram a integração entre corpo e alma, buscaram uma abertura de consciência e de reflexão sobre o homem no mundo de hoje. O ritual da vida moderna, com suas expectativas e tendências, tem contribuído mais para criar fraturas na interioridade humana do que para criar respostas aos seus anseios.

N
este ambiente de busca e experimentação, um diretor pernambucano de teatro, um sufi marroquino, um mestre do Budo, uma especialista em dança indiana, índios
Pankararus do sertão de Pernambuco e um monge zen budista compartilharam suas
Público assiste à abertura do Encontro Caminhos do Despertar na UFPEvivências e experiências com o público participante nas diversas oficinas.
Com a intenção de estreitar os laços com o Brasil, a Escola Tenchi Internacional, cuja sede fica em Sintra – Portugal, definiu a região Nordeste, particularmente Pernambuco, para realização deste Primeiro Encontro de Tradições, influenciada pelo aspecto multicultural e pela abertura para o mundo característicos desta região. A diversidade étnica proveniente da miscigenação de índios, europeus, africanos, dentre outros, guarda uma riqueza cultural e espiritual presente nas várias manifestações populares.
É neste território de diálogo intercultural entre diferentes tradições que ocorreu o primeiro Encontro Tenchi – Caminhos do Despertar, no Campus da Universidade Federal de Pernambuco, com a presença do pró-reitor de Extensão, Prof. Edilson Fernandes de Souza na cerimônia de abertura, além dos intervenientes convidados. Importante salientar que a Tenchi Internacional objetiva não só trazer tradições e práticas milenares para o Brasil, mas também levar as tradições brasileiras e nordestinas para o conhecimento do Mundo.
Oficinas

criada pelo próprio Stobbaerts
O diretor dramaturgo, Carlos Carvalho, promoveu vivência na sua oficina de posturas e expressões corporais a partir da cultura popular nordestina.
Para tanto, demonstrou a transformação dos gestos da população rural, a partir do corte de cana por exemplo, evoluindo para as danças e as expressões artísticas, como o maracatu
Público experimenta prática de Tenchi Tessen, a arte do leque,
criada pelo próprio Stobbaerts
rural, a capoeira, o frevo, que revelam um conhecimento e uma
maneira de sentir o mundo
extremamente particulares.
Faouzi Skali, escritor, professor de ciência e religião e especialista em sufismo e diretor da Fundação Espírito de Fez, que organiza anualmente o Festival Sufi e o Festival de Músicas Sagradas do Mundo, promoveu vivência de rito sufista. Numa introdução ao pensamento sufi e à dimensão mais íntima da busca do encontro com o divino, o retorno a unidade, a tolerância, o respeito pelas diferentes tradições espirituais, Skali mostrou meditação sufista – Dhikr, baseada em mantras e movimentos que podem levar horas ou dias e, por vezes, leva ao transe místico.
Na oficina “A Via do Gesto e da Dança e os Mudras da Índia”, a especialista em dança indiana e professora de Artes de Cena na Universidade Paris VIII, Katia Legeret encantou os participantes com a linguagem simbólica das mãos a partir da tradição do Bharata-Natyam. Animais do ideário indiano (leão, macaco, serpente, elefante, veado) foram “imitados” pelo público, por meio de técnicas gestuais, ao mesmo tempo em que se trabalhou a respiração e o desbloqueio energético. Personagens míticos da cultura milenar indiana como o príncipe e o mendigo também foram apresentados ao público que teve uma ideia do trabalho interpretativo dos atores indianos e da construção de narrativas por meio da expressão corporal.
Depois do intervalo para o almoço servido no próprio local do evento, os índios Pankararus, do sertão de Pernambuco, tomaram a cena apresentando o Toré, dança sagrada indígena. Não demorou muito para que os participantes, ao som das entoações dos próprios índios, fossem convidados a entrar na “dança” e vivenciar um pouco do Toré, fazendo o chão literalmente tremer com as batidas fortes dos pés, mostrando um pouco da sua cosmogonia que também se manifesta no som e no movimento.
Foi com essa vibração que se apresentou o grupo de aikido do Recife, da escola Tenchi Internacional, abrindo a oficina de Georges Stobbaerts, “A Via da Arte e do Movimento Tenchi Tessen, uma ponte entre o Ocidente e o Oriente”. Nela, o público presente pode “experimentar”o Leque, realizando posturas básicas da Arte do Leque, o Tenchi Tessen, em dupla e coletivamente. Criação sua, o TenchiTessen simboliza o sopro e a vida ao mesmo tempo que procura a unidade do homem entre o céu e a terra. O grupo de Tenchi Tessen do Brasil e de Portugal fechou a oficina numa demonstração do encontro entre a aspiração do homem e o seu enraizamento na terra, do encontro entre os próprios homens.
Foi com o silêncio e a imobilidade que terminou a jornada de vivências do Encontro Caminhos do Despertar, com a oficina “A Via do Silêncio – Meditação Zazen”, do monge budista Yves Crettaz. Nela, os participantes foram orientados quanto a postura do zazen, a importância da respiração e vivenciaram, por 20 minutos, a meditação silenciosa sob orientação do monge.
O Encontro Caminhos do Despertar não termina aqui. Novos encontros estão por vir, permitindo novas trocas e aprendizagens. Cada participante do Caminhos do Despertar também leva um pouco consigo do que lhe foi desvelado. Afinal, Encontros acontecem sempre, cabe a homens e mulheres estarem receptivos a eles.
Homenagem a Dom Hélder Câmara

Katia Legeret numa apresentação de dança sagrada indiana na Igreja da Sé em OlindaDiversas tradições se congregaram em homenagem ao arcebispo emérito do Recife e de Olinda Dom Hélder Câmara, na Igreja da Sé de Olinda. Em meio a cantos gregorianos, dança sagrada indiana, música clássica e apresentação da arte do movimento Tenchi Tessen, personalidades representantes de diferentes culturas e práticas espirituais, como Georges Stobbaerts, Faouzi Skali, Katia Legeret, Yves Crettaz e Frei Tito
prestaram homenagem a essa grande
personalidade, defensor dos direitos humanos.
Suas ideias e sua luta não se restringiram às cidades de Olinda e Recife, influenciaram todo o país e se disseminaram pelo mundo, mesmo sob forte censura do governo militar brasileiro da época. Treze anos depois de sua morte, líderes culturais e espirituais, que vêm atuando pela paz ao redor do mundo, uniram-se num diálogo multicultural e inter-religioso para reverenciar este homem, conhecido pelo seu pacifismo repleto de ativismo e de libertação.
A programação contou com homenagem a Dom Hélder por Georges Stobbaerts e Frei Tito, seguida de peça em violoncelo por Anatalio Teixeira e apresentação de dança sagrada indiana por Katia Legeret. Posteriormente Yves Cretazz e Faouzi Skali prestaram homenagem a Dom Hélder Câmara e o evento finalizou com apresentação de Tenchi Tessen pelo grupo Tenchi International de Portugal e do Brasil.
Texto por Paulo Nunes e Gabriela Torres